"Passou algum tempo... quer dizer, já não te via há anos, que pareceram-me, naquele instante, séculos! Eu, que nunca pensei ficar ansioso com este reencontro, tremi como se estivesse cheio de frio num dia daqueles terríveis de inverno!
Comecei a reclamar com qualquer pormenor insignificante pois queria sair daquela rotineira vida que tinha criado para mim... A funcionária disse que iria chamar a gerente, para que eu pudesse expor o meu ponto de vista - como quem diz a minha reclamação idiota!
E tu chegaste, exibindo um elegante vestido preto que caia ao encontro do teu corpo... Lá em cima, daqueles saltos que redesenhavam as tuas pernas suaves como o tecido do teu vestido, disseste-me: "Boa noite! Qual o motivo da reclamação?"
Os teus olhos penetraram os meus de um modo frio e rápido e que por isso mesmo quase não fui capaz de reconhecer neles os olhos doces e de menina com que outrora me olhavas! Foste dura, fria e nem sequer foste capaz de me reconher. Ou não quiseste?
Sempre soube que quando deixasses a capa de menina, vestirias um desses vestidos de mulher segura e que, certamente, já não precisarias de mim... Quando deixaste de precisar?
Não consegui evitar, fiquei em silêncio... Perguntaste, apenas, uma vez se iria reclamar de algo ou se era para dar os parabéns ao Chef... Não respondi e tu disseste que não irias perder mais tempo, mas que se me resolvesse a dizer uma frase que te poderia procurar na sala da gerência.
Abandonaste a minha mesa e o teu vestido permitiu-me relembrar o desenho perfeito das tuas costas... do tom da tua pele, que agora tem mais cor! Observei a segurança com que pisavas o chão e senti-me uma possível formiga a ser esmagada pelo salto fatal dos teus sapatos! Porque não me reconheceste? Estou assim tão diferente? Ou não quiseste recordar? Ou já esqueceste?
Deixei mostrar-te que estava vivo mas precisava de saber-te viva neste momento...."
FWD:
"Deixei de precisar de ti quando aprendi que tinha que contar apenas comigo... Reconheci quem tu eras apenas pelo teu perfume, mas não quis reconhecer, recordar-te! Não estás diferente... estás igual! Não me esqueci de ti, de mim e de nós... Apenas não quero relembrar!
Deixei de respirar quando te imaginei morto... mas depois percebi a simulação da tua morte... percebi que era eu que tinha morrido e resolvi viver!
Mas continuo a ser a mesma que conheceste com os mesmos olhos... Não fui eu que te olhei como dizes... foste tu que me viste assim...
Estou viva..."
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment