Wednesday, October 03, 2007

Apatia do olhar

Tenho um espelho na minha mão... vejo o rosto, que supostamente dá forma à minha alma, mas não o reconheço! Não me reconheço...
Permaneço horas, sem conta, sentada naquele alpendre velho, com o espelho na mão e a olhar para o vazio... Não me reconheço!
Volto a olhar no espelho e analiso cada traço deste rosto que dizem que é o meu... Está cansado, vejo isso nos contornos dos meus olhos! Está triste, vejo isso no contorno dos meus lábios que insistem em não esboçar qualquer sorriso! Está sem sonhos... não brilha mais!
A cadeira na qual me sentei é daqueles que baloiçam com uma pequena força... que baloiçam com o vento mais gentil... Deixo-me baloiçar e permaneço em silêncio!
Foi aqui neste alpendre não foi? Foi aqui que me disseste que ias embora? Foi sim! Já passou tanto tempo, mas lembro-me disso...
Volto a olhar para o espelho que me presenteia imagens do meu suposto passado... mas não o reconheço, como não reconheci o meu suposto rosto! E depois, volto a olhar para o vazio... para a estrada que parece não ter fim, para os campos que a acompanham nessa imensa longevidade...
Cansada daquele meu suposto rosto, parto o espelho!
Cansada do vazio, grito pelo tudo...
Depois da revolta, procuro um novo espelho e volto a sentar-me no alpendre, a olhar para o vazio....

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